Pesquisa mostra que adoção do sistema de integração lavoura e pecuária é uma das grandes soluções para aumentar a rentabilidade da propriedade e melhorar a estrutura dos solos na região do Arenito Caiuá
Cerca de 3,2 milhões de hectares ou 16% da área total do Paraná são formados por solos mais arenosos, o chamado Arenito Caiuá, a maior parte deles explorados para a pecuária de corte e ocupados com pastagens de baixas produtividade, lotação animal e fertilidade, além de acidez com baixos teores de cálcio e magnésio.
SUSTENTABILIDADE – Por serem mais frágeis, suscetíveis à perda de nutrientes, de matéria orgânica e à erosão, principais fatores relacionados à degradação da qualidade do solo, a sustentabilidade dos sistemas produtivos em uso nestas áreas tem sido a maior preocupação de pesquisadores, pecuaristas e produtores rurais e o que tem motivado inúmeras pesquisas em busca de soluções tecnológicas, segundo o engenheiro agrônomo Emerson Nunes, gerente técnico de ILPF da Cocamar.
EROSÃO – Mostrando o risco de se trabalhar os solos arenosos sem os devidos cuidados, experimentos publicados em 2016 por Gustavo Henrique Merten e colaboradores, no livro “Erosão no Estado do Paraná: fundamentos, estudos experimentais e desafios”, mostram que em áreas com preparo convencional do solo, sob condições de chuvas naturais, em um pasto com cultivo de mandioca, houve uma perda anual de aproximadamente 10 toneladas de solo por hectare. Já em pastos de braquiária e colonião, essa perda foi cinco vezes menor; cerca de 2 toneladas de solo por ano. Do mesmo modo, as perdas anuais de água resultante dos escorrimentos superficiais das enxurradas seguiram quase a mesma proporção, 93 mm em mandioca e 27 mm em pastos.
ALTERNATIVAS – Há décadas busca-se alternativas para reforma de pastagens degradadas e sistemas de rotação de culturas em plantio direto para a região e uma das opções que têm obtido melhores resultados, comenta o pesquisador Jonez Fidalski, do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – IAPAR-EMATER (IDR-Paraná), é a integração lavoura-pecuária (ILP), com a possibilidade de ainda inserir o plantio de árvores no sistema (ILPF). “Precisamos melhorar os solos da região de arenito. Não há mais fronteira agrícola. Temos que melhorar o que temos para que a propriedade continue sendo produtiva”, comenta o pesquisador.
ILPF – Nesse sistema, a sucessão de soja em plantio direto na primavera e verão e pastagem de braquiária no outono e inverno melhora a qualidade química, biológica e, principalmente, física dos solos do arenito. “É uma boa opção de manejo conservacionista para a região que tem obtido excelentes resultados, sendo uma alternativa para melhorar a produtividade e garantir a sustentabilidade dos solos”, conclui o pesquisador. Há diversos experimentos em propriedades privadas, estimulados pela Cocamar, e desde 2010 Fidalski tem desenvolvido trabalhos e feito publicações de resultados de pesquisas em solos do arenito, juntamente com outros pesquisadores, nas Estações Experimentais do IDR-Paraná.
SOLUÇÃO – Fidalski ressalta que a solução para conservar o solo, evitando a erosão, e aumentar a retenção de água estão baseadas na redução da intensidade do preparo do solo em áreas de pastagens, diminuindo os riscos de degradação da camada superficial arenosa sobre a camada de textura média. Ele diz que é necessário inserir palhada e raízes no sistema, aumentando o percentual de matéria orgânica nestes solos arenosos, e isso ocorre quando se mantém o solo vegetado permanentemente com gramíneas nas entrelinhas de pomares de laranja e no cultivo anual de braquiária em sistema de integração lavoura-pecuária, explica.
SEM COMPROMETER – “Com esse cuidado, é possível evitar o comprometimento dos atributos físicos e químicos do solo e a erosão hídrica, aumentar a infiltração da água e a produtividade agropecuária em pomares de laranja, mandioca e integração lavoura-pecuária, com sucessão de soja e braquiária. O uso destes solos com o preparo convencional, aração e gradagem, tem contribuído para uma baixa produtividade agropecuária nesta região”, orienta o pesquisador, ressaltando que a compactação superficial e subsuperficial diminuem com o uso e manejo de gramíneas, aumentando a capacidade de suporte destes solos ao tráfego de máquinas e pisoteio animais.
CUIDADOS – Ele alerta, entretanto, que é preciso selecionar as áreas da região do Arenito Caiuá com menores riscos de deficiência hídrica para as culturas, evitando locais que apresentam maior proporção de areia grossa. A capacidade média de armazenamento desses solos é baixa: um milímetro por centímetro de solo; e quanto maior a quantidade de areia total, maiores serão os riscos de deficiência hídrica às plantas nesses solos arenosos. Também recomenda utilizar terraços e o plantio em nível e destaca não ser necessário revolver o solo para incorporar calcário, porque a calagem superficial é eficiente em culturas permanentes como em pomares de laranja e pastagem.
PESQUISA – Um dos trabalhos desenvolvidos pela pesquisa foi o experimento de integração lavoura-pecuária implantado em 2010, na Estação Experimental de Xambrê, pertencente ao Polo Regional de Pesquisa do IDR-Paraná de Paranavaí. No local foi feito o plantio direto de soja na primavera-verão sobre a gramínea com o mínimo revolvimento do solo, apenas corrigindo o terreno ao se tampar sulcos de trilhos de gado e fazendo a manutenção dos terraços com a limpeza dos canais e aumento dos camalhões em nível, calagem superficial, dessecação da vegetação e semeadura direta da soja.
BRAQUIÁRIA – Após a colheita de cada um dos três primeiros anos, foi realizada a semeadura direta de braquiária ruziziensis durante o outono-inverno, com pastejo contínuo de bovinos da raça Purunã, por cerca de 90 dias, com carga animal variável para manter alturas de pastejo de 10, 20, 30 e 40 centímetros. E a partir do quarto ano de experimentação, esta foi substituída pela braquiária brizantha.
MELHORIAS – Com este trabalho, Fidalski concluiu que houve melhoria da qualidade física do solo em sua camada mais compactada, que havia sido identificada a 10-20 centímetros de profundidade, e que a infiltração de água desses solos pode ser ampliada, dependendo da altura de pastejo em braquiária no sistema de integração lavoura-pecuária, mantendo-se o solo vegetado com a utilização do sistema plantio direto de braquiária durante o outono-inverno e soja na primavera-verão, associada à manutenção de carga animal de bovinos que não degrade estes solos arenosos.
ALTURA DE PASTEJO – O pesquisador destaca que nas condições dos solos arenosos, o manejo da altura de pastejo tem impacto direto na produtividade do rebanho e nas condições gerais do solo, especialmente na taxa de infiltração de água. O pastejo a 30 cm altura em pastagens de braquiária brizanta é um referencial para definir o manejo de pastagem no Arenito Caiuá e no caso da altura de corte da braquiária ruziziensis, esta não deve ser inferior a 23 centímetros.
OTIMIZAR – “Esse é o parâmetro para otimizar o aproveitamento da forrageira, maximizar o ganho de peso do rebanho, sem prejudicar a pastagem e ainda preservar e melhorar a qualidade estrutural do solo e obter melhores taxas de infiltração de água. Pecuaristas que rebaixam demais a pastagem podem até obter um lucro imediato, mas, no longo prazo, o custo é a degradação física do solo e o comprometimento da propriedade e do agronegócio”, alerta.
RESULTADO – O estudo mostrou que o pastejo das braquiárias até os limites das alturas indicados possibilita manter uma tonelada de peso vivo de bovino por hectare durante 90 dias no outono e inverno – o que os especialistas consideram uma produtividade boa – e, ainda, obter bons indicadores de melhoria da qualidade física do solo. Além da redução da densidade e aumento da macroporosidade do solo, considerando a camada de 10-20 centímetros de profundidade, e a porosidade total na camada de 20- 40 centímetros de profundidade, houve aumento do armazenamento de água nos primeiros 20 cm de profundidade do solo, e aumento do teor de matéria orgânica – especificamente na camada de 10-20 centímetros de profundidade, segundo Fidalski.
DESCOMPACTAÇÃO – “Isso significa que esse sistema de plantio direto, após seis períodos de pastejos em braquiária no inverno, proporcionou maior continuidade da porosidade do solo. E justamente nas camadas que tinham apresentado maior compactação nos primeiros anos, devido ao uso anterior deste solo e, que não havia sido corrigido na sua implantação. A dessecação da braquiária promoveu a decomposição das raízes e o aumento da matéria orgânica, e, por conseguinte, a descompactação biológica das camadas com maiores teores de argila abaixo da camada superficial arenosa, aumentando a infiltração de água nesses solos, sem a necessidade do seu revolvimento mecânico”, conclui o pesquisador.
PESQUISADORES – Também participaram do projeto os pesquisadores Sérgio José Alves, Ivan Bordin, e Graziela Moraes de Cesare Barbosa, todos do IDR-Paraná. “É muito gratificante, profissionalmente, resumir os avanços para o uso e conservação dos solos arenosos do Arenito Caiuá, desenvolvidos por mais de trinta anos e disponibilizá-los para os responsáveis da assistência técnica e agropecuaristas paranaenses, uteis para solos parecidos dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul”, finaliza Fidalski.
Propriedade de Formighieri foi tranformada
A triste realidade existente na propriedade do médico veterinário Antonio Cesar Formighieri, de Umuarama, até 2000, era de pastagens em processo de degradação, repletas de pragas, um alto custo de reforma com preparo convencional do solo, baixa capacidade de lotação, cerca de uma cabeça por alqueire, e baixa fertilidade do solo, que é o cenário encontrado em muitas propriedades localizadas na região do Arenito Caiuá.
TRANFORMAR – Vendo a necessidade de reverter esse quadro, Formighieri encontrou na integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF) a formula para reformar suas pastagens, que têm em média teor de argila de 12%, melhorar a qualidade do solo e multiplicar a rentabilidade de sua propriedade sem ter que investir pesado na adubação e reforma das pastagens, e com a vantagem de ter uma renda extra com a soja.
CAMPEÃO DE PRODUTIVIDADE – Por sugestão da equipe técnica da Cocamar, Formighieri iniciou o trabalho em 2000, sendo um dos pioneiros na implantação do sistema na região, mas só a partir de 2007 é que, com o desenvolvimento da pesquisa, passou a aprimorar a prática e os resultados em sua propriedade, tanto que na safra 2015/16 foi campeão no Concurso de Produtividade ILPF da Cocamar produzindo 77 sacas de soja por hectare ou 186,3 sacas por alqueire em uma situação em que suas lavouras ficaram 25 dias sem chuva. A média de produtividade da soja nos últimos 10 anos é de 50,7 sacas por hectare ou 122,7 sacas por alqueire e a dos últimos cinco anos, sem considerar a última safra, é de 60,7 sacas por hectare ou 147 sacas por alqueire.
MAIOR RENTABILIDADE – Atualmente, metade de sua área é ocupada com soja no verão e braquiária no inverno, usada para pastagem dos animais, mudando a área de plantio a cada dois anos. Sua capacidade de lotação é de cinco UA (Unidade Animal), com ganho de peso de 8,7 arrobas por hectare ou 0,65 kg peso vivo/animal/dia e ainda sobra pastagem. Integrando as atividades, sua rentabilidade aumentou mais de nove vezes.
DIFERENCIAL – Para Formighieri, entretanto, o principal diferencial de todo o trabalho é a melhoria do perfil do solo, com avanços em todos os índices e aumento da fertilidade do solo em até um metro de profundidade. “Os números obtidos na análise do solo a um metro de profundidade em nossa propriedade são melhores do que os obtidos na camada de 00-20 da maioria das propriedades na região do arenito”, afirma o produtor.
MELHORIAS – O produtor destaca que isso faz com que as raízes da soja e da braquiária desçam em maior profundidade, conferindo às culturas maior resistência às estiagens, minimizando os riscos. Da mesma forma, a palhada deixada no solo retem e mantem a maior umidade, aumentando a infiltração da água da chuva, evitando a erosão e melhorando as condições do solo.
ÍNDICES – A CTC (Capacidade de Troca de Cations) de seu solo melhorou significativamente em todas as camadas, seu nível de matéria orgânica atual é de 22,20 g/dm3 enquanto nas áreas tradicionais é de 6,56 g/dm3; o pH em CaCL2 é de 6,11 em comparação com os 4,20 das demais áreas, isso sem falar na saturação de nutrientes, conforme quadro comparativo abaixo”, comenta Emerson Nunes, gerente técnico de ILPF da Cocamar. (Jornal Cocamar)