Preocupações agora se voltam principalmente para as lavouras de café e trigo
A massa de ar polar que atingiu principalmente as áreas agrícolas do Sul e Sudeste do Brasil na última semana, a terceira a trazer condições de congelamento este ano, causou mais danos às lavouras de grãos de inverno, às pastagens, hortaliças e às safras de café e cana-de-açúcar, já afetadas pelas estiagens e pelas fortes geadas da semana anterior e do final de junho e início de julho. Segundo especialistas, a sequência de geadas fortes é algo não visto há décadas, assim como a estiagem, apontada como uma das piores dos últimos 90 anos.
Em início de colheita e com a maior parte dos 257 mil hectares plantados em estágio de maturação de grãos, as lavouras de milho segunda safra já acumulavam prejuízos significativos mesmo antes das últimas geadas, com perdas estimadas em 60% de produtividade na região que engloba os 31 municípios do Núcleo Regional de Maringá da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), avalia o chefe do Núcleo Regional de Maringá, Jucival Pereira de Sá. “O que os produtores poderiam perder com o milho, já tinham perdido. As últimas geadas praticamente não alteraram o quadro”, ressalta.
O Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab trabalhava inicialmente com a expectativa de uma produtividade média de 5.100 a 5.600 quilos de milho por hectare ou 85 a 93 sacas por hectare (206 a 226 sacas por alqueire). Com a estiagem, tinham reduzido a previsão para algo em torno de 3.200 a 3.700 quilos por hectare ou 53 a 62 sacas por hectare (129 a 149 sacas por alqueire).
As geadas fizeram essa média ser novamente reduzida para 2.100 quilos ou 35 sacas por hectare (85 sacas por alqueire), complicando ainda mais a situação dos produtores. “O milho é a cultura mais afetada pelas geadas na região e a preocupação é com os efeitos dessa quebra de safra sobre a economia da região e sobre toda a cadeia produtiva, diante da alta dos preços do milho e da falta do produto, que é a base da alimentação de frangos, suínos e mesmo bovinos”, afirma Jucival.
No Paraná, a segunda safra de milho 2020/21 foi estimada em 6,1 milhões de toneladas, segundo o Deral, quebra de 50% em relação à produção da segunda safra da temporada anterior, devido à estiagem e às geadas registradas até meados de julho, e de 58% frente às expectativas divulgadas no início da safra, 14,6 milhões de toneladas. Esta é considerada a maior perda da história do cereal no Estado, 8,5 milhões de toneladas, e prejuízo financeiro estimado emR$ 11,3 bilhões, considerando os preços médios de 2021.
Já no caso do trigo, segundo Jucival, cerca de 20% das lavoras estão em fase de “embuchamento” ou soltando o pendão e são justamente essas áreas que podem sofrer impactos negativos com as últimas geadas. “Nossos técnicos têm saído a campo para avaliar as condições das lavouras e a evolução do quadro pós-geadas, e devemos ter uma noção melhor da extensão do prejuízo até meados da semana”, comenta Jucival. A maior parte dos 10,5 mil hectares plantados na região estava no estágio de desenvolvimento, menos suscetível a perdas relacionadas às geadas. O foco da atenção no trigo se concentra principalmente nos estados do Paraná, maior produtor nacional e Rio Grande do Sul, segundo maior produtor nacional.
Também em fase de colheita, a produção de café deste ano na região não deve ser afetada pelas geadas. “O que temos que avaliar é o comprometimento da condição da lavoura para a próxima safra. É certo que essas geadas impactaram no café da próxima safra em qualidade e volume de produção”, diz o chefe do Núcleo Regional de Maringá da Seab. Além do norte do Paraná, as geadas atingiram os cafezais do sul de Minas Gerais e divisa com São Paulo, principal região produtora de café no Brasil.
Uma das preocupações com o café são os efeitos da geada sobre as lavouras em formação e sobre a necessidade de poda dos cafezais afetados, que determinará a produtividade em 2022. Com a poda nos galhos laterais, a planta tem uma recuperação mais rápida, mas com as podas mais radicais, como o corte da planta na parte de baixo, poderá demorar pelo menos dois anos para um retorno à produção. O país tem 391 mil hectares de café em formação, segundo a Conab. A área total em produção é de 1,82 milhão de hectares. Outras atividades que devem sofrer com as geadas generalizadas ocorridas na região são a pecuária de corte e de leite, já afetadas fortemente pelo longo período de estiagem, de hortaliças, principalmente nos cinturões verdes das grandes cidades, além das lavouras de cana-de-açúcar e pomares de frutas. (Jornal Maringá)