O que mais preocupa é que as previsões são de chuvas em volumes mínimos este ano e com altas temperaturas, acima da média
Em um ano em que as adversidades climáticas castigaram severamente as lavouras de cana-de-açúcar no Paraná, os canaviais apresentam desenvolvimento abaixo do esperado e pode não só comprometer a próxima safra como também atrasar consideravelmente o início do próximo ciclo, que ocorre sempre a partir do dia 1 de abril. Normalmente, as usinas do Paraná retomam a colheita mais cedo, em março e até mesmo em fevereiro, contabilizando como parte da safra do ano anterior toda a cana colhida neste período, até o dia 1 de abril. Nos últimos anos, por conta das repetidas estiagens, entretanto, a colheita tem iniciado mais tarde e em 2022 isso tende a ocorrer novamente.
As geadas e a forte estiagem em meados do ano passado já tinham reduzido significativamente a safra 2021/22, trazendo consequências sobre a próxima. O final do ano passado também foi seco, com chuvas abaixo das mínimas e que ocorreram de forma localizada e em períodos concentrados, caracterizando 2021 como um dos mais secos dos últimos anos. Da mesma forma, o início de 2022 está sendo marcado pela baixa umidade.
“Isso deve comprometer a próxima safra. Tem região que ficou mais de 50 dias sem chuva e isso em meio ao registro de temperaturas elevadas que castigam as lavouras de cana. E mesmo onde choveu recentemente, a quantidade de água não foi suficiente para promover a recuperação da umidade necessária do solo. Com certeza vamos atrasar a próxima safra e esta será menor. E o que mais preocupa é que as previsões para este ano em nossa região são de chuvas em volumes mínimos e com altas temperaturas, acima da média”, afirmou Miguel Tranin, presidente da Alcopar, ressaltando que se as chuvas não normalizarem durante o verão, período onde ocorre o desenvolvimento dos canaviais, a situação pode se complicar consideravelmente, já que o outono e inverno no Paraná normalmente são mais frios e secos.
“O canavial tem sentido muito e a rebrota da cana está bastante atrasada. A renovação dos canaviais em 2021 também ficou bem abaixo da média, que é de 20%. Muitas áreas precisaram ser replantadas porque a muda morreu por falta de chuva, e tem lugar que não foi possível nem mesmo preparar a terra”, acrescentou Tranin. As estiagens e altas temperaturas também favoreceram o aumento da ocorrência das pragas de solo. “Tem canavial morrendo, nas reboleiras, onde o ataque de pragas somatizou com a estiagem”, comentou o presidente da Alcopar. A falta de chuva tem dificultado ainda as práticas de manejo agrícola como adubação e controles fitossanitários, o que tende a afetar o resultado final da lavoura.
Até meados de dezembro, quando iniciou o período de entressafra para as unidades produtoras do Paraná, a produção de cana, no acumulado da safra 2021/22, foi menor do que a esperada: 31,068 milhões de toneladas, redução de 6,8% se comparada com as 33,335 milhões de toneladas registradas no mesmo período do ano safra 2020/21.
O presidente da Alcopar disse que a entidade já tinha reduzido a estimativa de produção na safra atual de 34,79 mil toneladas de cana, volume produzido na safra 2020/21 no Paraná, para 31,465 milhões de toneladas, mais de 10% de quebra, diminuindo a produção de açúcar e etanol na mesma proporção, 2,322 milhões de toneladas de açúcar e 1,130 bilhão de litros de etanol sendo 530,55 milhões de litros de etanol anidro e 599,81 milhões de litros de hidratado. Mas, Miguel comenta que se o clima mais seco persistir, talvez o volume de cana-de-açúcar moído fique abaixo disso.
A produção de açúcar até 15 de dezembro totalizou 2,270 milhões de toneladas, 11,7% a menos do que o volume produzido no mesmo período do ano passado (2,571 milhões de toneladas) e a de etanol somou 1,128 bilhão de litros, 4,8% a menos do que o produzido na mesma quinzena de 2020 (1,184 bilhão de litros), sendo 535,92 milhões de litros de anidro, 5,9% a mais do que no mesmo período da safra passada (505,86 milhões de litros) e 591,65 milhões de litros de hidratado, queda de 12,8% no comparativo (678,12 milhões de litros).
A quantidade de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) por tonelada de cana, também no acumulado da safra 2021/22 ficou 2%abaixo do valor observado na safra 2020/21, totalizando 139,03 kg de ATR/t de cana, contra 141,83 kg ATR observados na safra passada. Até 15 de dezembro, 54,93% da cana disponível foram destinados à produção de açúcar, 3,4% a menos que no mesmo período da safra passada, confirmando a tradição açucareira do Paraná, que normalmente prioriza a produção de açúcar para exportação.
Visando garantir o abastecimento e por conta da melhor remuneração paga ao etanol este ano, em relação ao anterior, cerca de 45,07% da matéria prima disponível no campo foram utilizadas para a produção do biocombustível até 15 de dezembro, 4,5% a mais que no mesmo período da safra passada. “Apesar da produção menor de cana, houve um esforço das usinas para a produção de etanol, principalmente o anidro. Produzimos 6% a mais em relação à safra anterior”, ressaltou Tranin.
Em meio a tantas incertezas no campo, ainda não há uma estimativa mais precisa para a safra 2022/23, segundo o presidente da Alcopar. Quanto a mercado, entretanto, a aposta é em um novo ciclo positivo de preços para o setor, com maior rentabilidade e redução do endividamento, com bons preços pagos para o açúcar, o etanol e a energia da biomassa.